Não podemos falar de educação de jovens, adultos e idosos, sem lembrar-se daquele que dedicou toda a sua vida em prol dos marginalizados da educação em nosso país e no mundo. Paulo Freire foi um ícone da luta nas camadas populares um defensor da igualdade de direitos, e queremos dizer, sobretudo, para diminuir as incertezas, as dúvidas, os enganos, as contradições, e entendimentos sobre a contribuição desse brasileiro na educação de nosso país e do mundo, e só procurar entender a proposta metodológica de Paulo Freire, separar o seu método da sua teoria como um todo.
A proposta Freiriana não é justificada por si só, ela está contida em sua teoria de conhecimento. Nesse contexto devemos enfatizar que a proposta de Paulo Freire foi construída num passo a passo buscando entender as diretrizes da educação de adultos, e procurando entender o processo cognitivo de seu conhecimento que é eminentemente voltada para as questões essenciais na construção do ser como um todo, política, ética, humanista e democrática, porque o seu maior desafio era despertar nas camadas populares o seu direito de participar da sociedade, e nisso atingir o nível de consciência critica, demanda de quem faz a educação conscientizadora que começa em ler a palavra lendo o mundo.
Assim desvinculamos a teoria e a compreensão de educação do método, como se qualquer uma dessas partes pudesse se sustentar uma sem a outra. Com isso a proposta Freiriana de alfabetizar tem como intenção maior proporcionar aos esquecidos da política de educação a oportunidade de sair da situação de seres menos para uma situação de seres mais, ao permitir que: analfabetas e analfabetos resgatem a sua dignidade perdida durante anos de incompetência daqueles que deveriam cuidar das pessoas dando- lhes o direito de terem acesso ao mundo do conhecimento.
Como destaca Paulo Freire (1978, p. 232) em última instância, “produzir os analfabetos/as” é arrancar-lhes a voz da participação, da cidadania e da vida social com dignidade. Ao analfabeto/ a rouba-se o direito de biografarem-se, isto é, de serem sujeitos que podem ter suas histórias de vida como seres sujeitos da história, a partir de suas participações efetivamente concretizadas. A alfabetização conscientizadora possibilita aos indivíduos se constituírem como sujeitos e não ficarem eternamente só como objetos da incidência dos que sabem, podem, exploram, mandam e os submetem.
Com essa proposta de humanização dos homens e das mulheres, levando até eles a base da teoria do conhecimento, Paulo Freire propõe muito mais do que fazer um método de alfabetização fugindo do modelo tradicional que limita os educandos a fazerem decoração de letras e sílabas e juntá-las para formar pequenas frases, e ele ia mais além defendia que todos os seres humanos independentemente de cor, religião, raça, etnia ou sexo, pudessem ser gente. Gente que possa escrever e ler, gente que tem direito à moradia, a saúde, segurança, trabalho, lazer, e o direito mais sagrado que é o direito de estudar em uma escola de qualidade, e com os resultados da escolarização das gentes das camadas populares, esses ajudarem na transformação da sociedade.
Consideramos oportuno fazer um aprofundamento do método, fazendo o levantamento das concepções de como Paulo Freire entendia o seu cotidiano e o cotidiano das pessoas que viviam nas camadas populares, fazia parte de sua rotina pesquisar nos livros o comportamento daqueles que vivia à margem da sociedade capitalista. Mas Paulo Freire era uma pessoa inquieta quando se tratava de analisar a rotina dos analfabetas e analfabetos, esse achava mais interessante está de corpo presente nas ações dentro das comunidades desprovidas de políticas públicas essências para o seu desenvolvimento humano.
Como destaca Ana Maria Araujo Freire (2006, p.335) Na sua teoria, Paulo Freire partiu do pragmático, do óbvio que se repetia ingenuamente, magicamente por parte da população brasileira, e deu sentido a esse cotidiano não referendando o eterno repetir quase tão-somente da esfera animal em que muitas vezes viviam; partindo dele como fonte inesgotável de temas a discutir restaurou a fonte criadora que cotidianamente possibilita como ponto de partida para a reflexão crítica. Propôs ler a palavra e o mundo cotidiano, disse não ao não-cotidiano, isto é, ao metafísico alienado e alienante.
Assim, ele partiu do cotidiano, do dito, do feito, e do entendimento no mundo e na rotina dos oprimidos, e a relação dialética com o do opressor fixou nele suas bases teóricas para dele tirar o sentido de sua luta junto aos populares, nesse contexto deu oportunidade para um grande número de pessoas se beneficiarem de sua compreensão da educação essencialmente política, ética e humana.
A metodologia Freiriana para alfabetizar as camadas populares surgiu de um acaso quando seu filho Lutgardes, então com pouco mais de dois anos de idade, fez a “leitura da palavra” NESCAU” ele fez a associação da imagem e da pronuncia que vira na propaganda da televisão com a palavra inscrita em um painel de propaganda de rua do alimento que ele conhecia muito bem, pois consumia muito. Segundo Ana Maria Araujo Freire (2006, p.336) o menino cantarolou a música do anúncio ao ver a placa da rua e repetia Nescau… Nescau… (Nescau…). Paulo Freire refletiu muito com o ocorrido, trancou-se em sua sala de estudos e começou suas reflexões – como sempre fez durante toda sua vida, pois a sua teoria surgiu da necessidade de fazer reflexão e de pensar a coisa acontecendo na prática, o óbvio, o cotidiano, e destacava que o ser humano tem uma capacidade imensurável de observar, e de escutar.
De acordo com Ana Maria Araujo Freire (2006, p. 337) A intuição de Paulo Freire de que aquele momento não era apenas “uma sabedoria de um menino muito curioso” levou-o a reflexão sobre a lógica do fato. Assim, a partir dessa idéia, criou um caminho cognitivo-epistemológico – o chamado “Método Paulo Freire de Alfabetização” – que deu a possibilidade aos adultos de lerem a palavra escrita, já anteriormente conhecida pela oralidade.
Paulo Freire testou pela primeira vez o seu método com a então empregada doméstica de sua casa, Maria Gonçalves da Silva, que era carinhosamente chamada por toda a família de mãe. Mãe era uma mulher muito inteligente que na ocasião tinha em torno de cinqüenta anos de idade, mãe nasceu em uma época em que as mulheres mesmo de família mais abastadas poucas delas tinham o direito de ingressar no mundo do conhecimento, de está na escola.
O comprometimento de Paulo Freire com o trabalho voltado para as camadas populares é bastante claro. Em 1962, no Nordeste – a região mais pobre do Brasil – já existiam cerca de 15 milhões de analfabetas e analfabetos para uma população de 25 milhões de habitantes. Paulo Freire já tinha em sua bagagem uma vasta experiência com as pesquisas que realizava junto às comunidades ribeirinhas do norte de Recife e em Jaboatão dos Guararapes. Neste começo, o grupo de educadores liderados por Paulo Freire fizera a mais bem sucedida experiência de alfabetização de jovens, adultos e idosos no Nordeste brasileiro, na cidade de Angicos, Rio Grande do Norte. Os resultados foram excepcionais: 300 trabalhadores rurais, camponesas e camponeses alfabetizados em 45 dias impressionaram profundamente a opinião pública.
Como relata Paulo Freire (1967), o governo de João Goulart, percebendo o sucesso do projeto, convidou-o para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização (PNA), usando a sua metodologia. A idéia era montar 20 mil círculos de cultura em todo Brasil. E assim, entre junho de 1963 a março de 1964, foram feitas capacitações de alfabetizadores e de coordenadores dos círculos de cultura em quase todas as capitais dos estados; só no Estado da Guanabara-RJ se inscreveram quase 6.000 pessoas. O curso de capacitação e formação atingiu milhares de pessoas que se colocaram à disposição do estado, queriam dar a sua cota de colaboração no combate ao analfabetismo. O material a ser usado no projeto já estava à disposição dos alfabetizadores, e o modelo apresentado foi surpresa para todos pela simplicidade do método.
O audacioso plano pretendia alfabetizar, só em 1964, dois milhões de brasileiros. Cada círculo de cultura seria composto por 30 alfabetizandos, e teria a duração de 03 meses cada curso. “Tinha início assim uma campanha de alfabetização em escala nacional que envolvia, nas primeiras etapas, os setores urbanos, e deveria estender-se imediatamente depois aos setores rurais.” (Freire, 1967. p 19).
Mas a América Latina vivia nos anos anteriores o fantasma do comunismo, que era a arma usada pelos conservadores da elite brasileira, principalmente a imprensa para aterrorizar o governo democrático de João Goulart. A proposta de Paulo Freire de livrar o Brasil do analfabetismo teria alcançado os olhos dos reacionários, que se indignavam com a presença das camadas populares no cenário político nacional.
O golpe militar de 01 de abril de 1964 interrompeu um sonho de milhares de brasileiras, e brasileiros que tinham a esperança de sentirem-se incluídos na sociedade. Paulo Freire foi preso, exilado, arrancado de sua pátria. “Preferiram me acusar por idéias que não professa a atacar esse movimento de democratização cultural, pois percebiam em mim o germe da revolta”. (Freire, 1967, p. 19)
A importância da contribuição do educador Paulo Freire no cenário educacional do Brasil e do mundo é indiscutível. O educador, preocupado com o grave problema de analfabetismo, sempre se dirigiu às massas populares que muitos consideravam fora da história, procurando incluí-las pela educação. O educador esteve a serviço da conscientização e libertação do homem. Por isso é sempre lembrado por aqueles que acreditam em país-mundo justo, fraterno e solidário.
Texto: Elias Silva