As paredes não tinham as cores de hoje. As janelas e portas, também não! As cadeiras, nós tínhamos conseguido num bota fora da Imprensa Nacional que fica no Setor de Indústrias Gráficas.
Memória, Movimento Popular – Casa de Paulo Freire.
As paredes não tinham as cores de hoje. As janelas e portas, também não! As cadeiras, nós tínhamos conseguido num bota fora da Imprensa Nacional que fica no Setor de Indústrias Gráficas. A estatal precisava se desfazer de vários móveis já um pouco envelhecidos, mas para nós da Casa de Paulo Freire, aquelas cadeiras já bastante usadas nos serviriam muito, pois as poucas que tínhamos já não atendia a quantidade de alunos e alunas que chegavam ao projeto de alfabetização.
Recordo-me que passei a manhã de uma segunda-feira escolhendo as melhores cadeiras num amontoado de milhares que não serviam mais para uso, isso na avaliação dos funcionários da Imprensa Nacional. Foi cansativo!
O preço que pagamos pelo frete talvez compensasse comprar algumas cadeiras novas! Não pensamos nisso, porque as cadeiras não viriam somente para a Casa de Paulo Freire. Iriam também para outras instituições que prestam serviço voluntários, e que fazem parte do Movimento Popular da nossa cidade. O quadro na parede foi feito de cimento, do mesmo modelo dos quadros do Nordeste do Brasil, doação de um aluno de nome Paulo, que me disse que fez vários do mesmo no Estado do Ceará.
O aluno ficava incomodado com o quadro velho de fórmica que usávamos, que insistia em descolar da parede no melhor momento das aulas. Dia desses encontrei ele nas ruas de São Sebastião! Ele me perguntou se o quadro ainda existia e tal. Respondi que não! Que agora tínhamos quadros brancos com pincel apropriado e cadeiras que não “beliscavam” as pernas d@s alun@s.
Ele sorriu e seguiu viagem dizendo que concluiu o ensino fundamental. Esses momentos da Casa de Paulo Freire, no começo do terceiro milênio, não podem cair no esquecimento, porque não é fácil se consolidar um projeto de caráter popular sem a força do capital pesado (dinheiro), principalmente quando se reporta à educação.
E eu e minha família conseguimos driblar muitas propostas tentadoras, para hoje podermos dizer que valeu à pena manter a essência do projeto que são aquelas pessoas que mais precisam de ajuda, para sair da escuridão do analfabetismo.
Quando se faz com amor, a recompensa é dada por Deus e não pelo homem! No detalhe estamos entregando mais 50 certificados para a turma que se formou em 2005. Tempos de lutas! Mas também de muitas vitórias…
Uma resposta
Lindo trabalho, feito com humildade e amor.